Pesquisadores da Unicamp em Campinas (SP) criaram o protótipo de uma vacina capaz de proteger contra o vírus da zika e a meningite menigocócica. O estudo realizado pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), com apoio dos institutos de Biologia e Química e dois laboratórios da instituição, já resultou no pedido de registro da patente, além da publicação de um artigo na revista “Scientific Reports”.
“Acredita-se que colocando as duas vacinas juntas você potencializa a imunidade contra as duas doenças, pela própria característica bioquímica dos componentes da vacina. A gente ainda tem um longo percurso nesse estudo, mas verificamos que há uma chance bem grande de isso acontecer”, afirma.
Como bolhas de sabão
A ideia de reunir as duas patologias surgiu como um estalo enquanto o pesquisador lavava louça em casa.
Ao observar duas bolhas de sabão se unindo, refletiu sobre as características próximas entre as moléculas das doenças. As estruturas químicas do vírus da zika e da bactéria causadora da meningite são semelhantes.
“Elas são feitas por membranas muito parecidas com as nossas membranas celulares. Foi um estalo lavando louça. Imaginei as duas moléculas, de zika e meningite, juntas”.
Vacina personalizada
A FCF já estudava uma vacina para meningite há cerca de seis anos quando surgiu a possibilidade de combiná-la com o vírus da zika. A pesquisa também destaca que vacina poderá ser personalizada com diferentes tipos de meningite, no futuro.
“Ela é uma cultura celular contendo pedaços do vírus do zika e pedaços da bactéria da meningite. Inclusive, pode ser feita sob medida com a meningite que ataca a população de uma área específica. Bem alvo-dirigida”, explica.
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Marcelo Lancellotti, orientador da pesquisa da Unicamp (Foto: Antoninho Perri/Unicamp)
Para juntar meningite e zika, os pesquisadores usaram uma técnica chamada de cisalhamento, caracterizada pela agitação. Em seguida, a fusão foi usada para imunizar camundongos e os primeiros resultados surgiram: os animais desenvolveram anticorpos contra vesículas produzidas pela bactéria da meningite e o vírus.
A resposta, destaca Lancellotti, é imunológica e não representa resposta contra as doenças, uma vez que os animais testados não se infectam com os dois itens analisados durante o estudo.
A próxima etapa é dar continuidade aos testes para verificar a possibilidade de produzi-la em escala industrial. Lancellotti estima no mínimo mais cinco anos de estudos para que a vacina possa ser disponibilizada.
Além de mencionar que a metodologia é mais barata e simples, quando comparada à técnica de DNA recombinante (gene do vírus da zika é removido e introduzido em bactéria), ele ressalta que outra vantagem está no fato de que não usa ovos embrionários, comum, por exemplo, na vacina da gripe.
“Ajuda a não ter uma série de reações”.
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Fonte: G1